quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A flor

Estava eu dirigindo, já atrasada, e o sinal fechou. Praguejei contra o semáforo – era a única coisa que eu podia fazer. Impaciente, olhei para o lado, e o que vi foi a cena que conto aqui.

No passeio da rua, andavam dois irmãos: um menino, que não devia ter mais que treze anos, e uma garotinha, que talvez tivesse cinco. Era tão pequena que fazia o garoto parecer um adulto ao seu lado. Estavam com a farda da mesma escola, andando de mãos dadas, as mochilinhas nas costas.

O menino checou o relógio e apressou o passo. Atrasado, assim como eu – supus. A garotinha, porém, estancou onde estava, puxando a mão do garoto e fazendo com que ele também parasse. Ele insistiu em continuar andando, mas a obstinação da menina o venceu. Ele fez uma cara de enfado, provavelmente sem paciência para as birras da irmã, principalmente estando com pressa. Fiquei imaginando: o que ela queria? Porque quis simplesmente parar no meio da rua, sem motivo algum?

O motivo foi esclarecido no momento seguinte. A garotinha havia percebido uma flor nascendo num canto, entre as pedras do passeio. Abaixou-se, colheu a flor, e a deu ao irmão.

A cara feia sumiu... O menino abriu um sorriso, daqueles que gritam “eu te amo”, sem precisar de nenhuma palavra. Pegou a flor, abraçou a garotinha, que envolvia os bracinhos pequenos no pescoço do irmão. Ele a beijou no rosto, e continuaram andando de mãos dadas.

A garotinha, afinal, não queria a flor para ela, e sim para o irmão. Com seus olhos puros de criança, viu um pequeno tesouro, que os adultos – cegos – teriam pisoteado. E dividiu seu tesouro com alguém, simplesmente por amor. Não queria platéia, ou mesmo ganhar em troca outra flor; queria apenas o carinho do irmão. De certo não faz idéia que eu a observava, e muito menos que um dia escreveria sobre ela.

Esta é a história de uma garotinha que sem saber, me convidou a desacelerar, pelo menos enquanto o sinal estivesse fechado. Se eu olhasse um pouco mais à minha volta, talvez visse tesouros também.

Comovida com a cena, eu me perguntei: “quando foi que parei de ter tempo para notar a flor no passeio”?

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