Era um dia tão simples, tão descuidado,
Desses que a gente esquece a porta aberta
Ou que esquece do fogão ligado
Que se deu tão sádica descoberta;
Alguns diziam: é só uma inflamação!
Outros falavam: Será um inchaço?
Mas esta é a melhor explicação:
Na certa, o buraco é mais embaixo.
De uma coisa ninguém duvida,
Isso aí é um baita dum caroço.
Mas será que é só de muriçoca,
Ou daqueles de cavar o próprio osso?
Que comecem então os exames.
Que vexame!
Como pode um ser tão casto e tão pudico
A um estranho mostrar o seu furico?
Mas se não tem jeito, que seja...
Botem os peitos na bandeja.
Mas ninguém avisou a esse patife
Que peito não se amassa feito bife?
Outros exames e vexames se seguiram
Até se chegar a uma conclusão:
O caroço não é de muriçoca
É um filhote de cruz-credo com o bicho-papão.
Mas o pior mesmo é a cirurgia:
Como é que pode um cidadão
Tirar de nós um belo naco
E lá deixar o buraco?
Que saco!
Já não bastasse toda a agonia
Que nos faz perder o raciocínio
E aquela bendita ultrassonografia
Que nos deixa a xuxeta ao escrutínio?
Mas o médico, homem muito estudado,
Permanece firme, e dá o alerta:
“A gente opera, abre e corta!
Depois vem outro médico e conserta!”
Ninguém respeita mais nenhuma lei?
Ora, mas que abuso!
Onde foi parar aquela lei
Que falava sobre uso e desuso?
Protelam-se os planos mais nobres
Que jamais pode prever a Medicina
No mesmo balaio, o rico e o pobre,
E “bye-bye” carreira de dançarina.
Mas, como diz todo cristão,
Quando se igualam sua fé e seu pesar:
“Aquilo que não tem remédio,
remediado está!”
E assim, ao médico mastologista
Pediremos que seja amigo do peito
E ao cirurgião plástico roguemos:
“Meu filho, me ajeite que eu te ajeito!”